Galera, hoje tive a oportunidade de conhecer mais a fundo os escritos teóricos de Hélio Oiticica sobre a situação das artes e da vanguarda no Brasil.
Com isso, resolvi compartilhar com vocês esta discussão , que apesar de ter sido iniciada em 1967 até hoje ainda é pano para muita manga para a tão falada "Arte Contemporânea".

então vamos lá...



Oiticica defendia ser o termo "nova objetividade" o que mais fielmente traduzia as experiências das vanguardas brasileiras, em geral, e a sua trajetória, em particular. Para Hélio Oiticica
há uma tendência à superação dos suportes tradicionais , em proveito de estruturas ambientais e objetos.
Nestes escritos, ele nos apresenta 6 características super interessantes que são.

Vontade construtiva geral= No Brasil os movimentos inovadores apresentam, em geral, esta característica única, de modo bem específico, ou seja, uma vontade cons­trutiva marcante, onde a antropofagia seria a defesa que possuímos contra o domínio exterior e a principal arma criativa essa vontade construtiva, a que não impediu de todo uma espécie de colonialismo cultural, que de modo objetivo que­remos hoje abolir, absorvendo-o definitivamente numa Super-antropa­fagia. Por isto e para isto, surge a primeira necessidade da “nova ob­jetividade”: procurar pelas características nossas, latentes e de certa moda em desenvolvimento, objetivar um estado criador geral, a que se chamaria de vanguarda brasileira, numa solidificação cultural (mesmo que para isto sejam usados métodos especificamente anticultu­rais); erguer objetivamente dos esforços criadores individuais, os itens principais desses mesmos esforços, numa tentativa de agrupá-las culturalmente.

Tendência para o objeto ao ser negado e superado a quadra de cavalete= O fenômeno da demolição do quadro, ou da simples negação do qua­dro de cavalete, e o conseqüente processo, qual seja o da criação sucessiva de relevos, antiquadros, ate as estruturas espaciais ou ambientais, e a formulação de objetos, ou melhor, a chegada ao objeto, data de 1954 em diante, e se verifica de várias maneiras, numa linha continua, até a eclosão atual

Participação do espectador= O problema da participação do espectador é mais complexo, já que essa participação, que de inicia se opõe à pura contemplação transcenden­tal, se manifesta de várias maneiras. Há, porém, duas maneiras bem definidas de participação: uma é a que envolve “manipulação” ou “par­ticipação sensorial-corporal”, a outra que envolve uma participação “semântica”. Esses dois modos de participação buscam como que uma participação fundamental, total, não-fracionada envolvendo os dois processos, significativa, isto é, não se reduzem ao puro mecanismo de participar, mas concentram-se em significados novos, diferenciando-­se da pura contemplação transcendental. Desde as proposições “lúdicas” às do “ato”, desde as proposições semânticas da “palavra pura” às da “palavra no objeto”, ou às de obras “narrativas” e as de protesto político ou social, o que se procura é um modo objetivo de participação. Seria a procura interna fora e dentro do objeto, objetivada pela proposição da participação ativa do espectador nesse processo: o indivíduo a quem chega a obra é solicitado à contemplação dos signifi­cados propostos na mesma, esta é pois uma obra aberta

Tomada de posição em relação a problemas políticos, sociais e éticos=
Há atualmente no Brasil a necessidade da tomada de posição em relação a problemas políticos, sociais e Éticos, necessidade essa que se acen­tua a cada dia e pede uma formulação urgente, sendo o ponto crucial da própria abordagem dos problemas no campo criativo e não bastem à consciência do artista como homem atuante, somente o poder criador e a inteligência, mas que a mesmo seja um ser social, criador não só de obras, mas modificador também de consciências (no sentido amplo, coletivo), que colabore ele nessa revolução transformadora, longa e penosa, mas que algum dia terá atingido o seu fim — que o artista “participe” enfim da sua época, de seu povo.

Tendência a uma arte coletiva= Há duas maneiras de propor uma arte coletiva: a 1a seria a de jogar produções individuais em contato com o público das ruas (claro que produções que se destinem a tal, e não produções convencionais aplicadas desse modo) outra a de propor atividades criativas a esse público, na própria criação da obra ão seria estranho, então, se levarmos isso em conta, que os artistas em geral, ao procurar à chegada desse processo uma solução coletiva para suas proposições, descobrissem por sua vez essa unidade autônoma dessas manifestações populares, das quais o Brasil possui um enorme Acervo, de uma ri­queza expressiva inigualável

O ressurgimento do problema da antiarte= Por fim devemos abordar e delinear a razão do ressurgimento do problema da antiarte, que a nossa ver assume hoje papel mais importante e sobretudo novo.No Brasil o papel toma a seguinte configuração: como, num país subdesenvolvido, explicar o aparecimento de uma vanguar­da e justifica-la, não como uma alienação sintomática, mas como um fator decisivo no seu progresso coletivo? Coma situar aí a atividade do artista? O problema poderia ser enfrentado com uma outra pergunta: para quem faz o artista sua obra? Vê-se, pois, que sente esse artista uma necessidade maior, não só de criar simplesmente, mas de comunicar algo que para ele é fundamental, mas essa comunicação teria que se dar em grande escala, não numa elite reduzida a “experts” mas até contra essa elite, com a proposição de obras não acabadas, “abertas”.

"Hoje, o que quer que se faça,se formos um grupo atuante, realmente participante, seremos um grupo contra coisas, argumentos, fatos". ( OITICICA apud FAVARETTO, 2000, p. 155)

Fonte:http://www.artigosbrasil.net/art/artes/5821/nova-objetividade.html